Escrita De Rouxinol

Friday, September 23, 2005

A partitura

Suspensas naqueles cabos eléctricos que são cinco -sempre paralelos, seguros por um arabesco à esquerda-, as pintas pretas perfumam o ar. Rebolam e rebolam pelos cabos eléctricos, pululam, juntam-se na conversa, rebolam mais uma vez. Depois, muito abruptamente, a calma. Surge a falta de gravidade e elas flutuam em todas as direcções, são cometas sonhadores que com calma divergem. E agora, outra vez, uma entidade compositora agrega os cabos eléctricos e os cometas voltam a ser cachorrinhos brincalhões, que latem, rosnam e correm atrás das caudas e uns atrás dos outros. Mas!, o Sol apaga-se. A terra treme, abre-se e grandes barrigas e braços telúricos, feios, irrompem. Brotam então lava. Inundam a partitura e o ouvinte de lava. Lava quente, lava destruidora, desesperante e -todavia- fascinante. Quando já toda a Música é uma bola de fogo líquido, burila-se e tranforma-se num infinito de cometinhas que desta vez, no fim da partitura, podem fugir de vez para o vazio, para o negro, e ressoar majestosamente nas paredes do quarto.

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