Escrita De Rouxinol

Tuesday, February 21, 2006

Aconteceu comigo, há uns dias.

Abres o livro na página trinta e seis e há uma página cheia de caracteres. Graças ao teu astigmatismo, essa página de letras transforma-se num mar de símbolos. Pões os óculos e retomas a tua leitura, descontraidamente.

Saturday, February 18, 2006

As mesas do bar das Artes

As mesas redondas do bar pintalgam o átrio da entrada da escola que nem papoilas num prado de Maio.
Têm os alunos sentados à volta do botão, tal e qual os desenhos dos miúdos. Há ainda outras pessoas que cirandam por ali, entre as mesas: são os insectos, as abelhas que vão polinizá-las.
A certa altura, as mesas começam a dançar. É compasso ternário! É uma valsa, dança-se Strauss. Quando as mesas se começam a aborrecer, o andamento aumenta, a música fica mais rápida, e mais rápida e mais rápida! De repente... um estalo!, e parece que a música passa para a outra sala, fica a música abafada e a dança sobe de nível: deixa de haver gravidade e as mesas flutuam, estão na lua sem fatos de astronauta! Dançam num caos que parece organizado, porque não chocam nem batem contra as paredes, é harmonioso. E a música lá ao fundo, que vai mudando,mas é sempre outra valsa. São folhas de plátanos a cair no Outono, são bolhas de ar a subir na água até à superfície. Dançam tão harmoniosamente que, por vezes, parece que fazem pares, mas quando se olha mais atentamente para ter a certeza se estão mesmo a dançar duas a duas, torna-se óbvio que não.
E dançam, dançam, dançam, dançam...
Agora, já não há paredes do átrio, nem chão nem tecto. É só espaço, cosmos puro. Sente-se o calorzinho que vem do Sol, que está pendurado ali à frente, maior do que de costume, a doirar ao som das valsas, que continuam abafadas.
Afinal de contas, as mesas sempre estão a dançar coordenadamente, mas eu quase que apostava que é só desde há pouco tempo: fazem rodas e estrelas e ângulos esquisitos, são ginastas de natação sincronizada, mas sem água. Fazem rodas e estrelas e ângulos esquisitos, nadam de lado e para trás, estendem os braços, unem as cabeças e as pernas. Mergulham que nem golfinhos e voltam à superfície rodopiando que nem berbequins. Reconheço aquela valsa que tenho ouvido no carro. Mas já estou farta de a ouvir, parece que já está a repetir há uma data de tempo...
Vejo as mesas a dançar, confortada pelo bafozinho do Sol, aqui sentada neste sítio, e assola-se-me a beleza do espectáculo insólito: uma dúzia de mesas a dançar uma valsa num cenário lindo, um firmamento nada amorfo: são cometas a passar, nuvens de poeira, planetas na sua órbita, com os seus filhinhos -os satélites-, estrelas lá longe a piscar...
Já há uns compassos que as mesas se estão a ordenar. Fazem uma fila indiana. O Sol espraia-se ainda mais, abre os braços, estica-os com um avô à espera dos netos. As mesas sentem o ritmo, que nem as pessoas no carro a ouvir rádio, e começam a caminhar, ordeiramente, até ao Sol, que estreita os braços para elas, até se fundir tudo e o Sol brilhar ainda mais intensamente.

Monday, February 06, 2006

É possível que na sexta-feira ou no Sábado surja um post novo.

Muito obrigada pela vossa ansiedade.

Cumprimentos, a direcção.